As Fotografias do Tempo
As Fotografias do Tempo
por María Antonia Cobos
Quando a pequena Matilda se viu por primeira vez numa fotografia a preto e branco, apontou com o seu dedinho e gritou jubilosa com língua-de-trapos : “Tida, Tida!”. A mãe riu e beijou-a com carinho e emoção. O Zio Zé, fotógrafo, tirava-lhe numerosas fotografias por ser a única sobrinha da família, e a menina cresceu, rodeada dos retratos de todos os familiares mas, sobretudo, daqueles que o Zio tirava dela; Matilda gostava de olhar para eles e sentia-se contente do seu jeito, sempre com um enorme laço no cabelo loiro, olhos azuis e um sorriso charmoso.
Um dia pediu ao Zio Zé para não tirar fotografias dela porque se achava feia, cheia de borbulhas e gorda. Tinha quase 13 anos e a ingrata adolescência começava a revolucionar a mente e o físico da Matilda. Ela continuava sendo bonita mas via-se horrível apesar das palavras de elogio dos seus pais e amigos. Contudo o Zio pôde fotografá-la desprevenida em muitas ocasiões.
Quando fez 20 anos voltou a ver-se bonita e quis ser retratada pelo Zio e por todos os que tivessem uma máquina fotográfica. Posava, sorria e ficava encantadora em todos os retratos, quer com roupa elegante, quer com uns simples jeans. Casou-se uns anos depois e quando teve os seus próprios miúdos Matilda preferiu ser fotografada com eles, mas em segundo plano.
Mais vinte anos passaram e um dia descobriu que já não havia muitas imagens jeitosas dela e que a sua beleza dependia da roupa que vestisse, do humor que tivesse e do cansada que estivesse. Começou a escolher o momento e o seu estado de ânimo para permitir ser fotografada. Às vezes olhava para as imagens da sua adolescência e via-se jovem e bonita apesar de algumas borbulhas na cara !
A partir de então o tempo passou ainda mais depressa; chegaram os netos e as netas. O cabelo tornou-se branco; os seus olhos tinham a mesma cor mas não brilhavam igual apesar da ternura que derramavam ao verem os filhos e os netos. Cada vez que observava as fotografias tiradas dois anos atrás achava que ultimamente tinha envelhecido muito mais do que em toda a sua vida.
Já não quis mais ser fotografada. Contudo, o seu neto preferido tirou uma fotografia dela por surpresa, como fizera o Zio Zé setenta anos antes. Uma semana depois, Matilda adormeceu para sempre. O neto trouxe aos pais a última imagem da Avó e nela estava ela com o olhar vazio ou talvez a tentar recordar o seu jeito de juventude.
Então, o filho disse: “Foi bonita até ao último momento, mas ela não o sabia.”
Qué lindo cuento, María Antonia.
Enhorabuena!!
Rosario Solano.
Comentar por Rosario | Abril 26, 2009 |